domingo, 16 de junho de 2013

PEDAÇOS DE GRAMPOS

Onde eu acho pedaços de grampo? - perguntou o colega de trabalho.
Pergunta insólita prontamente respondida pelo colega solícito: haverá os tais fragmentos em gavetas azuis. Poderiam ser de outra cor, mas as gavetas eram azuis. Um azul desbotado igual ao arcaísmo próprio do local - uma repartição pública típica do século XXI.
Pra que, pergunto eu, o colega queria pedaços de grampo? Pergunta essa feita mentalmente por todos ali em moroso trabalho. Apenas mentalmente, pois todos preocupavam-se muito mais com seus próprios pedaços para, tão logo possível, construírem um  grampo inteiro. Na verdade, não apenas um grampo todos ali gostariam de reunir; mas uma caixa completa que, juntada a outras caixas, serviriam a unir os sonhos e desejos de uma rotina menos pesarosa. Rotina essa infelizmente necessária frente à tanta lide no moderno século XXI.
O primeiro colega que desejava tais pedaços abre a gaveta, procura e grampos de espessa espessura encontra. São muito grossos, rígidos; não é possível retalhar para ter os pedaços desejados. São próprios para instrumento robusto não encontrado ali naquela serventia. Os grampos são uns e seu destino é outro. Nem pedaços, nem grampos. O perguntador sai de cena e vai buscar em outra serventia na vã esperança de encontrar agulhas em palheiros.

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